Devocionário

Ora et Labora

29º Dia – Quarta-feira da 4ª Semana da Quaresma


Diz o Profeta: “Louvei-vos sete vezes por dia”. Assim, também nós realizaremos esse sagrado número, se, por ocasião das Matinas, Prima, Terça, Sexta, Noa, Vésperas e Completas, cumprirmos os deveres da nossa servidão; porque foi destas Horas do dia que ele disse: “Louvei-vos sete vezes por dia”. Quanto às Vigílias noturnas, diz da mesma forma o mesmo profeta: “Levantava-me no meio da noite para louvar-vos”. Rendamos, portanto, nessas horas, louvores ao nosso Criador “sobre os juízos da sua justiça”, isto é, nas Matinas, Prima, Terça, Sexta, Noa, Vésperas e Completas; e à noite, levantemo-nos para louvá-Lo.”

A unidade formada pelo abade e pelos monges, revelada na obediência, no ensino do mestre, no aprendizado dos discípulos e no esforço humilde, tem seu próximo e último fim em Deus. Enquanto é corpus 1monasterii, sua vida e respiração realizam-se em Deus e para Deus por meio da oração que, sendo a oração da comunidade, não pode ser senão o solene sacrifício de louvor da Igreja. Isso, no tempo de S. Bento, era uma coisa natural entre monges. Este serviço de oração, consagrado a Deus, é para S. Bento o ponto culminante de todas as manifestações de vida de seus monges. Dele diz S. Bento: “nada se anteponha”; o que, de resto, só exige em relação a Cristo. Assim, S. Bento traça todas as outras disposições referentes à vida monástica, tomando por centro o Opus Dei (Liturgia das Horas). Toda a vida monástica está orientada para o louvor divino, seja como preparação ou realização do mesmo. Este louvor é de tal modo o centro de toda a Regra que, graças ao sentimento de vida latente na comunidade, não faz falta uma introdução especial a este grupo de capítulos dedicados ao Opus Dei.

Pela prática das virtudes e, principalmente, pela entrega total de si mesmo a Deus na humildade, deve o monge tornar-se apto a rivalizar com os anjos no louvor de Deus. A observância dos preceitos ascéticos e disciplinares da vida monástica deve ser o fundamento do Opus Dei, deve conservá-lo constantemente vivo para ser fecundado pela graça do Espírito Santo e contribuir, por este meio, para a solidez e aprofundamento pneumáticos. Com razão, pois, K. Thieme dá, em relação a outras formas de monaquismo, a nota característica da Regra de S. Bento do seguinte modo: “Não a ascese, como fim em si mesmo, mas o Opus Dei, o louvor divino perfeito segundo a liturgia, pareceu-lhe ser o sentido e o centro da vida claustral; apenas como um meio para o fim, a Regra ensina uma mortificação sóbria, comedida, que não abrange toda a vida física e psicológica, mas somente aquilo que impede uma entrega total de si mesmo ao serviço de Deus”.

 “Sete vezes ao dia canto os vossos louvores”. “deveres da nossa servidão”, nossas orações obrigatórias nas diversas horas do dia. O termo “servidão”, não deve ser tomado aqui na acepção de servidão de escravo, mas no sentido de um trabalho que, por profissão, como finalidade de nossa vida, prestamos a Deus. Por duas vezes se acentua que, já em virtude da palavra profética do salmista (Sl 118, 164), o número 7 das horas canônicas é santo. Mas Davi guardou também as vigílias noturnas, pois diz no citado salmo: “No meio da noite, levanto-me para Vos louvar” (S. 118, 62). A estas mesmas horas, já antes de Cristo consagradas pelo culto, os monges devem oferecer a seu Criador o louvor dos juízos de sua justiça. Há, neste modo de se expressar, um reflexo da ideia da parusia. Deve-se notar também que o olhar está voltado para cima, para Deus Criador. Nestas horas canônicas queremos louvar a Deus, Criador do tempo, do dia, da noite, e do curso das horas. Vemos novamente como o “Cosmos”, a criação, tudo é introduzido no ritmo de oração da vida sobrenatural. De um lado são novamente santificadas as criaturas, a saber, o tempo e o espaço, os seres dotados de vida e os elementos anorgânicos, enquanto se relacionam com os cantores do louvor divino. De outro lado a própria criação, já por sua simples existência, canta igualmente o louvor de Deus, como se vê frequentemente nos salmos e no canto dos três jovens na fornalha. A justiça divina e a harmonia de suas obras manifestam-se na criação, onde tudo se faz segundo a medida, número e peso. Assim, também uma harmoniosa “confissão” à grandeza e majestade do criador do mundo deve ressoar através das horas canônicas.

Dom Ildefonso Herwegen, OSB, Sentido e Espírito da Regra de São Bento, pág. 147-148.176

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