“Escrevemos esta Regra para demonstrar que os que a observamos nos mosteiros, temos alguma honestidade de costumes ou algum início de vida monástica. Além disso, para aquele que se apressa para a perfeição da vida monástica, há as doutrinas dos Santos Padres, cuja observância conduz o homem ao cume da perfeição. Que página, com efeito, ou que palavra de autoridade divina no Antigo e no Novo Testamento não é uma norma retíssima da vida humana? Ou que livros dos Santos Padres Católicos ressoam outra coisa senão o que nos faça chegar, por caminho direto, ao nosso Criador? E também as Colações dos Padres, as Instituições e suas Vidas, e também a Regra de nosso santo Pai Basílio, que outra coisa são senão instrumentos das virtudes dos monges que vivem bem e são obedientes? Mas para nós, relaxados, que vivemos mal e somos negligentes, são o rubor da confusão. Tu, pois, quem quer que sejas, que te apressas para a pátria celeste, realiza com o auxílio de Cristo esta mínima Regra de iniciação aqui escrita e, então, por fim, chegarás, com a proteção de Deus, aos maiores cumes da doutrina e das virtudes de que falamos acima. Amém.”
RSB, Cap. 73
São Bento escreveu, pois, uma Regra que pode e deve ser observada em comum, sob a forma cenobítica do monarquismo. Com sua feição jurídica tem por fim santificar a comunidade e por meio desta, cada monge individualmente. Não imediata, mas só mediatamente é que ela atinge o indivíduo. O que, antes de tudo, se pretende com a formação e o aperfeiçoamento da família monástica, é a honestidade de comportamento. Essa expressão significava, para o cidadão romano, honestidade civil, perfeição moral pressuposta no cidadão romano, que, segundo a tradição dos antepassados, vive para o bem da res publica Romana. Aplicada à comunidade eclesiástica da Cidade de Deus, honestidade de comportamento significa a vida cristã perfeita, segundo os mandamentos de Deus e os ensinamentos da Igreja.
“De resto, para os que se apressam a chegar à perfeição da vida monástica, há a doutrina dos santos Padres, cuja observância leva o homem ao cume da perfeição. Pois, qual a página do Antigo ou do Novo Testamento que não seja para a vida humana, uma certíssima norma” Parece que com “resto”, S. Bento se afasta da Regra. “De resto”, além da Regra, a qual é apenas um início, existem outras doutrinas. Não podemos compreender perfeitamente este capítulo, sem considerarmos que nele S. Bento não fala à comunidade monástica, mas, se dirige a cada um individualmente; além disso, que não tem em mira o estado monástico, mas a “vida humana”. Os santos Padres, de que se trata aqui, são os patriarcas- e profetas, os apóstolos e evangelistas, os autores dos livros sagrados, porque eles têm importância para todos os homens. Além disso a Sagrada Escritura, sendo revelação de Deus aos homens, é, como tal, uma norma de vida que vale para todos. Sendo o monge um membro da sociedade humana, S. Bento lhe indica à lei mais geral e sublime, na qual cada palavra vem de Deus e por isso conduz à perfeição. O ser humano que almeja viver segundo a palavra de Deus, é o que foi modelado em Cristo, o que participa daquela humanidade que apareceu sobre a terra, na humanidade do Salvador.
Dom Ildefonso Herwegen, OSB, Sentido e Espírito da Regra de São Bento, pág. 407-408
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