Devocionário

Ora et Labora

23º Dia – Quinta-feira da 3ª Semana da Quaresma


O oitavo grau da humildade consiste em que só faça o monge o que lhe exortam a Regra comum do mosteiro e os exemplos de seus maiores.”

No oitavo grau, S. Bento supõe que o monge não faça senão o que estiver de acordo com a Regra comum do mosteiro e com o exemplo dos mais velhos. Nenhum dos graus da humildade parece ser tão simples na teoria e na prática como esse. Contudo, há nele muitos ensinamentos e muitas exigências. O monge não deve fazer coisa alguma que esteja fora da Regra e do exemplo; por conseguinte temos um limite. S. Bento pressupõe positivamente, que a Regra e o exemplo sejam observados do melhor modo possível. A observância da Regra, que tem igual valor para todos é a lei básica da existência dos mosteiros. O exemplo dos mais velhos, ao contrário, parece antes ser um estímulo subjetivo, sem obrigatoriedade. E, contudo, toda a pedagogia dos antigos — já fizemos menção disto — baseava-se no exemplo e na imitação. Também para o Cristianismo, a imitação de Cristo tornou-se princípio educacional. Com a exortação “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (4, 16; 11, 1) que S. Paulo repete por duas vezes na primeira Epístola aos Coríntios, o que ele quer é educar, como mestre, os seus discípulos, segundo o próprio modelo, de tal modo que se conformem ao exemplar do mestre. Ser imitador de Cristo foi também, desde o início, o sentido do estado monástico, Por isso os antigos monges são os modelos dos mais novos. As relações de mestre e discípulo consistem nesta reciprocidade. O que os anacoretas tinham começado, os cenobitas continuaram, apesar de colocarem a Regra comum em primeiro plano. Mas para esses também, a Regra escrita seria letra morta se não fosse interpretada pelo exemplo da vida. Esta vida então nos é apresentada no exemplo dos monges mais idosos. A Regra que foi vivida pelos nossos antepassados obriga-nos à imitação, ainda que em sua forma concreta dependa das contingências, pessoais, locais e materiais. Em todo caso, e isso resume o oitavo grau, seria uma falta contra a humildade quisesse cada monge, por própria iniciativa, levado por um suposto conhecimento melhor das coisas ou um pretenso desejo maior de virtude, agir de outro modo que não o exigido pela Regra e pelo exemplo. Caso a observância da Regra perca, na vida cotidiana, com os mais velhos, a seriedade e o rigor, é dever do abade intervir em primeiro lugar. Particularmente, poderá cada um dar também conselhos e impulsos para uma forma perfeita de vida. Jamais, porém, se deverá deixar que cada um siga seu próprio caminho, na suposição de aspirações mais elevadas ou de uma fidelidade maior à Regra.

Dom Ildefonso Herwegen, OSB, Sentido e Espírito da Regra de São Bento, pág. 137-138


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