Devocionário

Ora et Labora

24º Dia – Sexta-feira da 3ª Semana da Quaresma


O nono grau da humildade consiste em que o monge negue o falar a sua língua, entregando-se ao silêncio; nada diga, até que seja interrogado, pois mostra a Escritura que “no muito falar não se foge ao pecado” e que “o homem que fala muito não se encaminhará bem sobre a terra”.

Mais estreitamente do que à primeira vista se julga, também o nono grau da humildade se prende à tradição do antigo monaquismo. Segundo esse, exige-se que o monge prive sua língua de falar e, guardando o silêncio, não fale antes de ser interrogado. Pois a Sagrada Escritura diz que “falando muito não se evita o pecado” (Prov. 10, 19) e que “o homem falador não trilhará bom caminho na terra” (Sl 139, 12). Não se trata da conversa de todos os dias, necessária, durante o trabalho e a convivência, mas dos colóquios doutrinários e edificantes que revelam o interior da alma. Entre os Padres corria como lei não escrita que ninguém, por própria iniciativa, devia proferir uma sentença, ninguém devia dar um rhêma *. O Padre só dava uma sentença, espiritual, um “lógion” sendo interrogado ou pedido. E, muitas vezes, a resposta exigia dias. Unicamente sob este ponto de vista, historicamente tradicional, é que se pode considerar tão alto grau de virtude, guardar o silêncio até ser interrogado. Essa concepção do silêncio como uma espera da iluminação sobrenatural, influirá, naturalmente, sobre todo o falar no mosteiro. Ninguém se manifeste a não ser por impulso do Espírito Santo. Isso significa para a vida monástica: “habitare secum”, santo silêncio e conversa santa.

* Rhema ou Lógion significava, na literatura monástica grega, uma sentença breve e incisiva, proferida pelos anciãos a fim de orientar os discípulos. Tais Sentenças eram frequentemente solicitadas e muito estimadas pelos monges, pois ôstes as julgavam como que provindas do Espírito Santo. (N. d. T.)

Dom Ildefonso Herwegen, OSB, Sentido e Espírito da Regra de São Bento, pág. 138-139


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