
“O sexto grau da humildade consiste em que esteja o monge contente com o que há de mais vil e com a situação mais extrema e, em tudo que lhe seja ordenado fazer, se considere mau e indigno operário, dizendo-se a si mesmo com o Profeta: ‘Fui reduzido a nada e não o sabia; tornei-me como um animal diante de Vós, porém estou sempre convosco’”.
RSB, Cap. 7, 49-50
Segue agora como consequência natural que o monge, no sexto grau, se contente com as coisas ínfimas, dando-se por satisfeito até mesmo com a extrema penúria, considerando-se operário indigno e inútil, em tudo que se lhe ordena. Com o profeta repete: “Fui reduzido a nada, em tua presença tornei-me semelhante ao animal de carga, contudo estou sempre contigo” (Sl 72, 22 ss.).
Quem se julga um “nada”, não irá fazer exigências quanto à alimentação, habitação e modo de vestir, nem acalentará desejos de funções e cargos honrosos. Esta restrição do que se refere ao próprio eu, já devia existir em virtude do estado monástico. A vocação divina chamou cada monge a um lugar determinado e o colocou em uma dada comunidade. O modo de vida varia para cada mosteiro, conforme a situação, a idade, os recursos e à direção. Em regra, ouvem-se menos queixas onde se fazem maiores sacrifícios. Fica-se grato por qualquer benefício, porque voluntariamente se escolheu a vida de sacrifício. A vida monástica fornece também o padrão para a avaliação dos encargos. Humanamente falando, não é cada um que pode julgar-se operário incapaz e indigno. Pelo contrário, todos querem tomar parte nos trabalhos da comunidade, com a maior eficiência possível. Diante de Deus, porém, só vale o sentimento interior, não importando o maior ou menor brilho, à maior ou menor distinção do cargo externo. À valorização segundo medidas humanas é de todo indiferente para Deus. Tanto vale para Ele o trabalho manual no campo e na oficina, quanto as produções do espírito, na arte e na ciência. O que pesa na balança divina é o conteúdo invisível da obediência, prestada com alegria, nos trabalhos e sacrifícios, no amor e na dedicação. O princípio fundamental do estado monástico continua sendo o mesmo, a humildade enquanto é aproximação de Deus: “Estou sempre convosco”.
Dom Ildefonso Herwegen, OSB, Sentido e Espírito da Regra de São Bento, pág. 135-136
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