Devocionário

Ora et Labora

20º Dia – Segunda-feira da 3ª Semana da Quaresma


O quinto grau da humildade consiste em não esconder o monge ao seu Abade todos os maus pensamentos que lhe vêm ao coração, ou o que de mal tenha cometido ocultamente, mas em lho revelar humildemente, exortando-nos a este respeito a Escritura quando diz: “Revela ao Senhor o teu caminho e espera nele”. E quando diz ainda: “Confessai ao Senhor porque ele é bom, porque sua misericórdia é eterna”. Do mesmo modo o Profeta: “Dei a conhecer a Vós a minha falta e não escondi as minhas injustiças. Disse: acusar-me-ei de minhas injustiças diante do Senhor, e perdoastes a maldade de meu coração”.

Continuando nessa linha ascendente, a obediência alcança sua plenitude no quinto grau da humildade. Nesse grau o monge declara a seu abade por uma humilde confissão todos os maus pensamentos que lhe nascem no coração e os pecados cometidos ocultamente. A Escritura nos aconselha a isso, dizendo: “Revela ao Senhor os teus caminhos e espera nEle” (Sl 36, 5). Em tal conexão não fala S. Bento em superior como no terceiro grau, nem em prior como no quarto grau da humildade, mas cita o abade, como sendo o foro competente. O “pai espiritual” na plenitude do Espírito Santo toma a seus cuidados o monge de alma aflita e “que confessa contra si mesmo sua injustiça ao Senhor”. O abade, auxiliando e medicando, ocupa perfeitamente o lugar do Senhor. A confissão liberta a alma do mal tornando-a livre para receber o Espírito Santo, que o pai espiritual carinhosamente lhe transmite. A Regra não fala aqui da confissão sacramental, mas da disposição que o monge deve ter para a penitência manifestando humildemente sua consciência ao representante de Deus, o qual, sendo pai e pastor, é também o portador do Espírito para seus discípulos. Graças à influência paternal do abade, o Senhor afasta qualquer “impiedade do coração”, santificando os corações dos discípulos. Assim se estabelece entre o pai e os filhos, o mais íntimo comércio fundado em confiança recíproca. A autoridade e a obediência são elevadas às relações mais Íntimas da piedade — cuidado paternal e dedicação filial — relações essas que pertencem ao número dos mais preciosos dons do Espírito Santo. Esse sopro do Espírito Santo transfigura toda a comunidade monástica, abade e irmãos, formando uma só unidade no amor a Cristo. O quinto grau vem a ser, fora de dúvida, o ponto culminante da humilde atitude interior do monge. Levanta o véu do mistério da iniquidade oculto a todos os homens, até mesmo o que encobre os pensamentos, revelando-o aos olhos do pai espiritual. Deste modo renunciamos totalmente ao próprio eu, até aos últimos pensamentos, e colocamos toda a nossa confiança unicamente em Deus, porque Ele é bondoso. Toda a nossa vida interior entregue assim a Deus, que é que nos poderia ainda impedir de aceitar também humildemente todas as circunstâncias exteriores da vida?

Dom Ildefonso Herwegen, OSB, Sentido e Espírito da Regra de São Bento, pág. 134-135


Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *