Devocionário

Ora et Labora

11º Dia – Sábado da 1ª Semana da Quaresma


Os instrumentos das boas obras:

Colocar toda a esperança em Deus. 

O que achar de bem em si, atribuí-lo a Deus e não a si mesmo.

Mas, quanto ao mal, saber que é sempre obra sua e a si mesmo atribuí-lo.

Temer o dia do juízo.

Ter pavor do inferno.  

Desejar a vida eterna com toda a cobiça espiritual.

Ter diariamente diante dos olhos a morte a surpreendê-lo.

A série seguinte de princípios espirituais dirigem o olhar dos cristãos para as últimas grandes decisões, denominadas novíssimos pela teologia. Estão completamente impregnados dos pensamentos da eternidade. S. Bento dá a entender logo na primeira sentença que todo o nosso futuro está unicamente nas mãos de Deus. Em relação a esse futuro não podemos agir como fazemos com nossas ações ou omissões atuais. Só a firme confiança no Senhor e a contínua união com Ele dar-nos-á garantia de alcançarmos com êxito a perfeição. Por menos que possamos, por nós mesmos, determinar a sorte eterna, devemos todavia, no temor e na esperança, ter presente a realidade vindoura. Isso nos ensina O Santo nas seguintes sentenças:

“Depositar em Deus a própria esperança.

O bem que se nota em si, atribuí-lo a Deus e não a si mesmo,

mas sempre reconhecer o mal como própria ação e atribuir a si,

temer o dia do juízo,

ter medo do inferno,

desejar a vida eterna com todo o ardor espiritual,

ter diariamente a morte diante dos olhos”.

Nossa esperança constitui todo o nosso futuro, isto é, qualquer desenrolar da vida que escape a nosso domínio. A primeira sentença, pois, abrange tudo que ainda segue neste parágrafo. Para que ninguém suponha que por suas virtudes e boas obras, tenha certeza ou direito, frisa-se expressamente que o bem em nós, é apenas um dom e uma graça de Deus, mas o mal que nunca pode vir de Deus, é obra nossa, oposta a Deus. À sentença virá com o dia do juízo, Apesar da grande confiança na misericórdia de Deus, temos de esperar nÊle com humildade e temor. Deve ser o temor da criança que se abriga nos braços do pai e não um temor sem esperança. O dia do juízo é a Parusia de Cristo, sobre a qual Ele mesmo diz: “Erguei as vossas cabeças, pois se aproxima vossa redenção!” (Lc 21, 28) O dia do juízo significa por consequência, a plenitude de nossa salvação. Havemos de tremer perante o inferno, como sendo o eterno afastamento de Deus. Mas devemos, com todo ardor, desejar a vida eterna, enquanto é a suprema e inebriante revelação de Deus a nós. A cobiça espiritual de que S. Bento fala aqui, é aquele desejo de Deus que já no santo batismo, o Espírito Santo nos concedeu como vida eterna, como participação da natureza divina (2 Pd 1, 4). A morte é a porta de ingresso para a eternidade. E a passagem através desta porta significa, para nós, a última decisão. A morte é o momento mais importante de nossa existência terrena. Mas nós a consideramos com certa suspeita por ser tudo incerto: tempo, lugar, e circunstâncias. Vemos na morte o “estipêndio do pecado” (Rom. 6, 23). Pode-se admitir aqui também os outros sentidos de “suspeitar”: olhar para o alto, olhar com admiração. Neste caso temos na morte menos a conclusão da vida terrena do que o início de nossa transfiguração. Então o anjo de Deus nos reconduzirá às mãos de nosso Criador para a eterna consumação. Esta explicação está intimamente ligada ao desejo, antes mencionado, da vida eterna.

Dom Ildefonso Herwegen, OSB

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