“Os instrumentos das boas obras:
Não satisfazer a ira.
Não reservar tempo para a cólera.
Não conservar a falsidade no coração.
Não conceder paz simulada.
Não se afastar da caridade.
Não jurar para não vir a perjurar.
Proferir a verdade de coração e de boca.
Não retribuir o mal com o mal.
Não fazer injustiça, mas suportar pacientemente as que lhe são feitas.
Amar os inimigos.
Não retribuir com maldição aos que o amaldiçoam, mas antes abençoá-los.
Suportar perseguição pela justiça.
Não ser soberbo.“
RSB, Cap. 4, 22-34
Aqui já se inicia a “conversatio” propriamente monástica, propondo-se primeiro e de modo fundamental, a segura organização da vida interior:
“Não satisfazer a ira,
não dar tempo à cólera,
não guardar dolo no coração,
não oferecer paz simulada,
não se afastar da caridade,
não jurar para não ser eventualmente perjuro,
dizer a verdade de coração e de boca”.
Como a última sentença acentua em resumo, tem todo este parágrafo por fim regular a atitude interior contra qualquer espécie de mentira, contendo ao mesmo tempo a instrução prática para uma disposição honesta determinada pela fé.
A ira pode ser nobre, de acordo com o motivo e a finalidade. Por esta razão não se exclui simplesmente sua presença ou sua explosão repentina. Como, porém, ela é quase sempre alimentada pelo amor próprio, deve ser submetida inteiramente ao domínio do espírito. Não se lhe deve deixar tempo para explosões desenfreadas e violentas. A intenção de enganar, a paz simulada, o recusar a caridade, as afirmações falsas e até juramentadas, tudo isso dá testemunho de falsidade e sutileza interior, de um modo errado de pensar e de julgar. Como um freio a tudo isso, deve-se dar valor à sentença final: “Dizer a verdade de coração e de boca”.
Ao pensar segue-se o querer:
“Não retribuir mal com mal (1 Pd 3, 9),
“Não cometer injustiça, mas suportar com paciência a recebida,
amar os inimigos (Lc 6, 27),
aos que nos desprezam não responder com desprezo,
mas, ao contrário, abençoá-los (1 Pd 3, 9),
sofrer perseguições por amor da justiça (Mt 5, 10),
não ser orgulhoso”.
A orientação falsa da vontade há de ser interiormente corrigida e encaminhada para o bem. Todas as faltas de caridade devem ser contrabalançadas por uma caridade pronta ao sacrifício e até mesmo acompanhada de sofrimento. O prazer da vingança e o da desforra de ofensas recebidas, tem de ser excluído. Mesmo a injustiça devemos suportá-la pacientemente. Segundo a palavra do Senhor (Mt 5, 44) temos de aturar os inimigos caridosamente, respondendo às suas maldições com bênção e sua perseguição será sofrida por amor dos justos interesses de Deus. O orgulho, raiz de todos os pecados (Eclo 10, 15), é a causa de nosso fracasso diante de toda uma série de exigências que, à semelhança de subida, são apresentadas à nossa absoluta sinceridade (24-30) e à atitude cristã de nossa vontade (31-38), por amor de Cristo. É, pois, com razão que S. Bento encerra todo este parágrafo que trata da modificação interior de nosso pensar e querer, numa palavra: “não ser soberbo”.
Dom Ildefonso Herwegen, OSB
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