“Os instrumentos das boas obras:
Abnegar-se a si mesmo para seguir o Cristo.
Castigar o corpo.
Não abraçar as delícias.
Amar o jejum.
Reconfortar os pobres.
Vestir os nus.
Visitar os enfermos.
Sepultar os mortos.
Socorrer na tribulação.
Consolar o que sofre.
Fazer-se alheio às coisas do mundo.
Nada antepor ao amor de Cristo.”
RSB, Cap. 4, 10-21
A sentença seguinte inicia a doutrina sobrenatural das virtudes, com o programa ordinário da vida cristã:
“Renunciar a si mesmo para seguir a Cristo (Luc. 9, 23).
Daqui em diante, S. Bento passa a direção para Cristo. A partir deste ponto não deseja o homem senão livrar-se de faltas substanciais contra o direito natural, sancionado por Deus no monte Sinai; até as Exigências do seu próprio eu, ele as diminui em benefício da comunidade. A vocação do monge para seguir a doutrina e o exemplo de Cristo, força-o a aspirar ao alto. Em primeiro lugar, deve dominar perfeitamente o seu corpo: “castigo o meu corpo e o mantenho em servidão” (1 Cor. 9, 27). S. Paulo escreveu estas palavras referindo-se aos jogos antigos, cujos severos treinos são de novo compreendidos pelo homem moderno. Assim, o “abnegar a si mesmo” é expresso nas sentenças:
“castigar o corpo (1 Cor. 9, 27),
não dar valor aos prazeres da carne,
amar o jejum (não praticá-lo apenas por obrigação)”.
Limitando o próprio eu em relação aos prazeres da vida corporal, temos a possibilidade de auxiliar o próximo em suas necessidades. Com isso fica confirmado o “seguir a Cristo”: “O que fizestes aos meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt. 25, 40). Perante o tribunal divino será isso decisivo para nossa eternidade (Mt. 25, 46):
“Socorrer os pobres (Mt. 25, 35),
vestir os nus (ib. 25, 36),
visitar os enfermos (ib.),
enterrar os mortos (Tob 1, 21; 2, 4 ss),
ajudar nas tribulações,
consolar os tristes”.
Todas estas “boas obras” constituem uma imitação do Senhor, do qual narram os Atos dos Apóstolos: “Andava distribuindo benefícios e fazendo curas” (10, 38). Os necessitados supramencionados precisam dos meios de vida indispensáveis. Eles, ou perderam a própria vida, e como a mortos só podemos mesmo prestar-lhes as últimas honras, a que cada homem, enquanto é criatura de Deus, tem direito, ou lutam corporal ou espiritualmente em tal miséria, que equivale a uma espécie de morte. Na opinião do mundo, para a sociedade humana, devem ser igualados aos mortos, pois estão excluídos do convívio social dos homens. Quem não pode prover às condições externas de vida, já não tem valor para o mundo. Precisamente a estes infelizes dedicar-se-ão os que querem seguir os vestígios de Cristo. Aquele que quiser se dedicar com amor aos deserdados da vida, tem de se libertar do modo de agir do mundo, tornar-se um forasteiro aqui e não preferir nenhum bem terreno ao amor de Cristo. Estas duas sentenças, a segunda das quais é a consequência positiva da primeira formulada negativamente, constituem a transição para os elementos da perfeição cristã.
Dom Ildefonso Herwegen, OSB
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