Devocionário

Ora et Labora

8º Dia – Quarta-feira da 1ª Semana da Quaresma


Os instrumentos das boas obras:

Abnegar-se a si mesmo para seguir o Cristo. 

Castigar o corpo.

Não abraçar as delícias. 

Amar o jejum.

Reconfortar os pobres. 

Vestir os nus. 

Visitar os enfermos. 

Sepultar os mortos. 

Socorrer na tribulação.

Consolar o que sofre.

Fazer-se alheio às coisas do mundo.

Nada antepor ao amor de Cristo.”

A sentença seguinte inicia a doutrina sobrenatural das virtudes, com o programa ordinário da vida cristã:

“Renunciar a si mesmo para seguir a Cristo (Luc. 9, 23).

Daqui em diante, S. Bento passa a direção para Cristo. A partir deste ponto não deseja o homem senão livrar-se de faltas substanciais contra o direito natural, sancionado por Deus no monte Sinai; até as Exigências do seu próprio eu, ele as diminui em benefício da comunidade. A vocação do monge para seguir a doutrina e o exemplo de Cristo, força-o a aspirar ao alto. Em primeiro lugar, deve dominar perfeitamente o seu corpo: “castigo o meu corpo e o mantenho em servidão” (1 Cor. 9, 27). S. Paulo escreveu estas palavras referindo-se aos jogos antigos, cujos severos treinos são de novo compreendidos pelo homem moderno. Assim, o “abnegar a si mesmo” é expresso nas sentenças:

“castigar o corpo (1 Cor. 9, 27),

não dar valor aos prazeres da carne,

amar o jejum (não praticá-lo apenas por obrigação)”.

Limitando o próprio eu em relação aos prazeres da vida corporal, temos a possibilidade de auxiliar o próximo em suas necessidades. Com isso fica confirmado o “seguir a Cristo”: “O que fizestes aos meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt. 25, 40). Perante o tribunal divino será isso decisivo para nossa eternidade (Mt. 25, 46):

“Socorrer os pobres (Mt. 25, 35),

vestir os nus (ib. 25, 36),

visitar os enfermos (ib.),

enterrar os mortos (Tob 1, 21; 2, 4 ss),

ajudar nas tribulações,

consolar os tristes”.

Todas estas “boas obras” constituem uma imitação do Senhor, do qual narram os Atos dos Apóstolos: “Andava distribuindo benefícios e fazendo curas” (10, 38). Os necessitados supramencionados precisam dos meios de vida indispensáveis. Eles, ou perderam a própria vida, e como a mortos só podemos mesmo prestar-lhes as últimas honras, a que cada homem, enquanto é criatura de Deus, tem direito, ou lutam corporal ou espiritualmente em tal miséria, que equivale a uma espécie de morte. Na opinião do mundo, para a sociedade humana, devem ser igualados aos mortos, pois estão excluídos do convívio social dos homens. Quem não pode prover às condições externas de vida, já não tem valor para o mundo. Precisamente a estes infelizes dedicar-se-ão os que querem seguir os vestígios de Cristo.  Aquele que quiser se dedicar com amor aos deserdados da vida, tem de se libertar do modo de agir do mundo, tornar-se um forasteiro aqui e não preferir nenhum bem terreno ao amor de Cristo. Estas duas sentenças, a segunda das quais é a consequência positiva da primeira formulada negativamente, constituem a transição para os elementos da perfeição cristã.

Dom Ildefonso Herwegen, OSB

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