“Cingidos, pois, os rins com a fé e a observância das boas ações, guiados pelo Evangelho, trilhemos os seus caminhos para que mereçamos ver aquele que nos chamou para o seu reino. Se queremos habitar na tenda real do acampamento desse reino, é preciso correr pelo caminho das boas obras, de outra forma nunca se há de chegar lá. Mas, com o profeta, interroguemos o Senhor, dizendo-lhe: ‘Senhor, quem habitará na vossa tenda e descansará na vossa montanha santa?‘. Depois dessa pergunta, irmãos, ouçamos o Senhor que responde e nos mostra o caminho dessa mesma tenda, dizendo: ‘É aquele que caminha sem mancha e realiza a justiça; aquele que fala a verdade no seu coração, que não traz o dolo em sua língua, que não faz o mal ao próximo e não dá acolhida à injúria contra o seu próximo‘”
RSB, Prólogo, 21-27
O caminho, depois de conhecido, deve palmilhado. “Cinjamos, pois nossas ilhargas com a fé e, ainda mais com a confirmação da fé através das obras”. Antigamente, quem se punha a caminho arregaçava a túnica.
Com as palavras “Cingidos, pois, os rins” apoia-se S. Bento em Ef 6, 14-15, volvendo mentalmente em torno dessa passagem: “Portanto, ponde-vos de pé e cingi os vossos rins com a verdade e revesti-vos da couraça da justiça e calçai os vossos pés com a preparação do evangelho da paz”. Enquanto S. Paulo prossegue dando o sentido das armaduras do legionário romano, distancia-se S. Bento do Apóstolo, explicando o caminho que conduz ao tabernáculo do rei. Preparemo-nos para a jornada, percorramos rapidamente as distâncias, as marchas diárias do caminho indicado, a fim de merecermos ver Aquele que nos chamou a seu reino! Entre os antigos mestres do monarquismo, por exemplo, Evágrio e Cassiano, “fé” está intimamente relacionada com “temor”, não só o temor de Deus enquanto é o fundamento da perfeição, mas de modo particular o temor do juízo final e do castigo eterno. “Observância” é a prática da “fé” por meio das boas obras. A fé e os atos resultantes da fé são inspirados sob a égide do Evangelho. O “caminho da vida” que leva à visão do Senhor, deve ser a mesma que o Senhor seguiu. Trata-se, pois da imitação de Cristo segundo os Evangelhos.
Partindo de seu insistente convite para que corramos ao tabernáculo do Rei, por meio de boas obras, passa S. Bento a extensas considerações sobre a atitude espiritual do monge, enquanto é condição indispensável de sua união com Deus. “Interroguemos o Senhor juntamente com o profeta: Senhor, que habitará em vosso tabernáculo e quem repousará em vossa montanha santa?” A doutrina que se segue sobre a virtude, constitui o caminho do tabernáculo real e vale para os que andam neste caminho. O último fim é o habitar e o repousar.
Dom Ildefonso Herwegen, OSB
Deixe um comentário