Devocionário

Ora et Labora

5º Dia – 1º Domingo da Quaresma


E procurando o Senhor o seu operário na multidão do povo, ao qual clama estas coisas, diz ainda: “Qual é o homem que quer a vida e deseja ver dias felizes?” Se, ouvindo, responderes: “Eu”, dir-te-á Deus: “Se queres possuir a verdadeira e perpétua vida, guarda a tua língua de dizer o mal e que teus lábios não profiram a falsidade, afasta-te do mal e faze o bem, procura a paz e segue-a”. E quando tiveres feito isso, estarão meus olhos sobre ti e meus ouvidos junto às tuas preces, e antes que me invoques dir-te-ei: “Eis-me aqui”. Que há de mais doce para nós, caríssimos irmãos, do que esta voz do Senhor a convidar-nos? Eis que pela sua piedade nos mostra o Senhor o caminho da vida.

No meio da grande multidão, o Senhor procura seu operário; do meio da turba agitada e comprimida ergue-se a voz de Deus (clama). Ele procura um operário. Empregar todas as energias na realização de uma grande tarefa é o que exprime cada um dos nomes dados ao monge: “filho”, “soldado”, “discípulo”, “operário”. Ser monge não quer dizer apenas ouvir e aprender no mosteiro; significa também pôr em prática o que se aprendeu. Todo esse trabalho, porém, tem por fim a “vida”. “Qual é o homem que deseja a vida?” Eis a questão decisiva. Aqui não se pode tratar senão de uma vida mais sublime que a terrena, a verdadeira e eterna vida que é equiparada à paz. Essa paz que almejamos e da qual jamais devemos abrir mão, é uma harmonia interior, reconciliação consigo mesmo, com Deus e com o próximo. Pax significa unidade, ausência de qualquer oposição.: Só está apto para a vocação monástica, quem busca esta paz. Pax é, em suma, o último fim da vida monástica. O romano antevia sempre, como finalidade de todas as lutas, a paz (Pax Romana). Nesse sentido, como sendo a recompensa de todas as lutas, Pax tornou-se também o lema do monaquismo beneditino em geral. Para o monge que vive em comunidade é uma pressuposição necessária a observância do preceito: “guarda tua língua do mal e teus lábios não profiram palavras enganadoras”. Só assim é possível conservar a paz na comunidade. “Se fizerdes assim, porei meus olhos sobre vós e inclinarei meus ouvidos às vossas súplicas”(Sl 33, 16), “e antes que chameis por mim, dir-vos-ei: estou aqui” (Is 58, 9). Essas palavras corroboram, de maneira grandiosa, o que se tem dito até agora. Ouvimos acima, que nossos olhos e ouvidos deviam estar voltados para a revelação divina. Aqui se nos afirma que, ao procurarmos a Deus, Seus olhos e ouvidos vêm a nosso encontro. Ainda mais: antes que O invoquemos, Ele nos dirá: “eis que estou aqui!”.

Dom Ildefonso Herwegen, OSB


Comments

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *