Devocionário

Ora et Labora

4º Dia – Sábado depois das Cinzas


Levantemo-nos então finalmente, pois a Escritura nos desperta dizendo: “Já é hora de nos levantarmos do sono”. E, com os olhos abertos para a luz deífica, ouçamos, ouvidos atentos, o que nos adverte a voz divina que clama todos os dias: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não permitais que se endureçam vossos corações” e de novo: “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça o que o Espírito diz às igrejas”. E que diz? – “Vinde, meus filhos, ouvi-me, eu vos ensinarei o temor do Senhor. Correi enquanto tiverdes a luz da vida, para que as trevas da morte não vos envolvam

Aparece aqui a primeira citação da Sagrada Escritura, que a seguir ocupará um longo espaço na Santa Regra.

S. Bento considera o Antigo e o Novo Testamento como um todo, a “Escritura”, a palavra de Deus dirigida ao homens, a revelação divina na economia da salvação por meio do Espírito Santo. À Regra desconhece uma diferença fundamental entre os textos do Antigo e os do Novo Testamento. De um versículo dos salmos tira um preceito tão obrigatório quanto de ema palavra do Senhor, (nos Evangelhos. Cada palavra da Sagrada Escritura é inspirada pelo mesmo Espírito Santo. E por isso que S. Bento não raro, em uma só citação, reúne palavras do Antigo Testamento com palavras do Novo.

Do Antigo Testamento. S. Bento dá preferência ao livro dos Salmos. Os versículos, citados por ele, revelam sua familiaridade com com este tesouro de oração litúrgica e e seu grande amor por estes cânticos sagrados. S. Bento sentiu, de modo particular, o espírito indestrutível, o estro profético que transpira dos Salmos.

“Levantemo-nos finalmente” arranca-nos à força da letargia espiritual, obrigando-nos a uma mudança completa de vida. Se quisermos alcançar o fim, a glória, temos de despertar para uma vida consciente. De olhos bem abertos devemos encarar a luz da graça que nos ilumina e nos diviniza. Com os ouvidos “feridos como por trovão”, havemos de ouvir a voz divina, a qual diariamente, ao se cantar o invitatório nas Vigílias, nos admoesta dizendo: “Hoje, se ouvirdes sua voz, não endureçais vossos corações”! As expressões “já é hora”, “hoje”, lembram-nos que vivemos em um mundo sobrenatural, sem os limites do tempo, em que a cada instante podemos voltar novamente ao princípio.

Dom Ildefonso Herwegen, OSB


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