“Antes de tudo, quando encetares algo de bom, pede-lhe com oração muito insistente que seja por ele plenamente realizado, a fim de que nunca venha a entristecer-se, por causa das nossas más ações, aquele que já se dignou contar-nos no número de seus filhos; assim, pois, devemos obedecer-lhe em todo tempo, usando de seus dons a nós concedidos para que não só não venha jamais, como pai irado, a deserdar seus filhos, nem tenha também, qual Senhor temível, irritado com nossas más ações, de entregar-nos à pena eterna como péssimos servos que o não quiseram seguir para a glória.”
RSB, Prólogo, 2-3
Antes de tudo, quando vais fazer qualquer boa obra, pede com instante oração que Ele a leve a bom termo, para que, tendo-se dignado contar-nos entre o número de seus filhos não deva um dia encolerizar-se por causa de nossas más ações. Temos pois de servi-lo com os dons que estão em nós, de tal modo que, não somente como um pai enraivecido não deserde um dia seus filhos, mas também como Senhor terrível, irritado com nossos pecados, não nos entregue ao castigo eterno, como a servos indignos que não O quiseram seguir à glória”. Antes de tudo (in primis), S. Bento coloca a oração. O princípio e o fim pertencem a Deus. Se conseguimos iniciar alguma coisa boa é porque já estão em nós “seus bens”, a saber: sua graça, seu Espírito, a cuja inspiração devemos obedecer. Essa obediência interior é a resposta que damos à vocação de filhos de Deus, a qual já no Batismo nos foi dada gratuitamente. “Por Ele”, refere-se a Cristo Senhor, verdadeiro Rei, sob cujas ordens queremos militar. Só Ele poderá levar a bom termo, o que sua graça desperta em nós. Ele se entristecerá com nossas más obras, quando não obedecermos a seu Espírito que vive em nós. Nesse caso, o Pai, encolerizado, não só deserdará os filhos que chamou por meio da graça, mas também, como “Senhor” (dominus no sentido romano), virá a nosso encontro, subtrair-nos-á sua paternidade e tratar-nos-á como a escravos indignos. Os que não o quiserem seguir à glória, receberão a eterna condenação.
Dom Ildefonso Herwegen, OSB
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