Devocionário

Ora et Labora

26º Dia – 4º Domingo da Quaresma


O undécimo grau da humildade consiste em, quando falar, fazê-lo o monge suavemente e sem riso, humildemente e com gravidade, com poucas e razoáveis palavras e não em alta voz, conforme o que está escrito: “O sábio manifesta-se com poucas palavras”.

Importa que o autodomínio que o monge deve ter ao manifestar a disposição da alma, se estenda a todo comércio com os outros homens. “Há de ser moderado e parco no rir, humilde e grave, não deve pronunciar senão palavras sensatas, sem produzir ruído com a própria voz, assim como está escrito: “o sábio se reconhece pela sobriedade das palavras”. Essa última citação dá ao undécimo grau sua nota característica. À expressão “está escrito” não se refere aqui à Sagrada Escritura, mas de uma antiga coleção de sentenças, traduzidas do grego por Rufino e atribuídas ao Papa Sixto II por seu autor. Citando esta passagem, como resumo do 11º grau da humildade, quer assinalar a ideal da perfeição, o vir sapiens, como era conhecido dos romanos através da tradição dos estoicos. Esta sentença de Sixto contém um juízo meramente natural. Sabedoria é a união da inteligência e da vontade, do espírito e do coração; quer dizer um conhecimento repassado, impregnado do ardor do coração. Profunda visão acompanhada de sentimento, significa, por conseguinte, primeiramente uma perfeição ética, puramente natural. Esta versão é confirmada pela exigência da gravidade, uma atitude digna genuinamente romana, que nasce da íntima posse de si mesmo, e de uma liberdade natural que não deixa transparecer nada de mesquinho e pouco varonil e à qual, por isso, não assenta o riso. Consequentemente as poucas palavras devem ser “razoáveis”, sábias, pensadas, simples. A maneira de se apresentar, caracterizada pela dignidade e seriedade, exige, naturalmente, um tom de voz comedido, retraído, que não se fale alto, sem moderação. O décimo primeiro grau distingue, pois, de maneira geral, o monge que, como um sábio, está acima das contingências da vida e, firmado na paz interior, domina completamente sua língua. Mas, a sabedoria só pode imperar e agir na alma do monge, quando pela graça for elevada à esfera sobrenatural da fé e da união com Deus. Somente assim poder-se-á colocar a sabedoria no mesmo plano da humildade, da qual ela é a coroa.

Dom Ildefonso Herwegen, OSB, Sentido e Espírito da Regra de São Bento, pág. 139-140

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